Chamada V7 N2 - Revista de Letras Juçara

2023-07-05

Dossiê: A ADAPTAÇÃO DA LITERATURA PARA O CINEMA: POSSIBILIDADES DE ANÁLISE E PESQUISA

Organizadores do dossiê temático: Prof. Dr. Carlos Augusto Viana da Silva (UFC)

Prof. Dr. Francisco Romário Nunes (UESPI)

Prof. Dr. José Ailson Lemos de Souza (UEMA)

Prazos para submissão: de 06/07 a 01/10.

Previsão de publicação: dezembro/2023.

 

Em seu surgimento, o cinema estabelece vínculos com a literatura, seja no esforço de recriar técnicas narrativas caras à tradição literária a partir de imagens em movimento, ou seja pelo amplo recurso à adaptação de obras literárias. Com a rápida ascensão do cinema como expressão artística e cultural na modernidade, as inovações técnicas, conforme Walter Benjamin (2012), alteraram diversos parâmetros e valores que haviam balizado a relação entre arte, público e crítica. George Bluestone (1957), um dos primeiros autores a discutir sobre a adaptação de romances, considera as especificidades estéticas de cada gênero narrativo e conclui ser incompatível manter seus respectivos valores com o recurso à adaptação. No entanto, Décio Torres Cruz (2014) declara que a adaptação reafirma continuamente os contornos cada vez menos claros a separar literatura e cinema. Nessa perspectiva, mudanças e interconexões entre essas artes seriam mais uma via de mão dupla do que supõe a visão sobre a adaptação como arte meramente derivativa. Outra direção teórica a também refutar tal visão considera a adaptação por meio da intertextualidade ou transtextualidade (STAM, 2006; SCHOBER, 2013; CUTCHINS, 2017).   Dennis Cutchins (2017) propõe que o estudo da adaptação deve ser central em toda disciplina dedicada ao estudo de textos (literatura, cinema, teatro, etc.), uma vez que dialogismo e intertextualidade instauram processos complexos de produção de sentidos, dos quais a adaptação de obras literárias tem contribuído ininterruptamente desde o surgimento do cinema. Interessa-nos, nesse ponto, considerar a adaptação como objeto de estudo e pesquisa no interior dos estudos literários. Fábio Durão (2020) cita a espécie de impasse em incorporar filmes aos estudos literários no contexto acadêmico brasileiro, e defende a necessidade de se estabelecer abordagens de análise específicas. Porém, talvez a própria natureza da adaptação (envolta em circunstâncias culturais, históricas, materiais, e transdisciplinares) resista a análises a partir de modelos específicos. No contexto anglófono, há certa polarização metodológica no estudo da adaptação. Kamilla Elliott (2014) identifica essa divisão entre perspectivas formalistas e neoformalistas, preocupadas em definir, nomear e sistematizar o estudo da adaptação, e outras, atreladas à pós-modernidade, tratando a adaptação a partir dos paradigmas de indeterminação, pluralismo, hibridismo, pastiche, e fragmentação. Enquanto um grupo se concentra na análise do texto (adaptação), o outro se interessa igualmente pelo contexto, por aspectos culturais, e posiciona-se contra qualquer tipo de elitismo quanto aos objetos de pesquisa. Elliott (2014) propõe aos pesquisadores o desafio de experimentar metodologias híbridas, que incorporem princípios e orientações de ambas as perspectivas. Este dossiê tem o objetivo de reunir artigos sobre a adaptação da literatura para o cinema que contemplem abordagens de análise atentas tanto a aspectos formais quanto culturais, com o fim de delinear análises plurais, mas que pensem a adaptação como possibilidade de leitura e interpretação atenta a fatores estéticos e socioculturais.