O CRIOULO DA GUINÉ-BISSAU É UMA LÍNGUA DE BASE PORTUGUESA? EMBATE SOBRE OS CONCEITOS
DOI:
https://doi.org/10.18817/rlj.v2i2.1758Resumo
A questão terminológica do termo pidgin surgiu pela primeira vez em 1850 (TARALLO, ALKMIM, 1987) para se referir a uma língua que surgiu da mistura entre o chinês e o inglês. Do pidgin surgiu o crioulo, uma língua natural que se formou em situações de contato linguístico (HLIBOWICKA-WĘGLAR, 2007). Os crioulos se formaram em espaços estrategicamente dominados por exploradores europeus. Na Guiné-Bissau se formou crioulo que é uma língua não oficial embora fosse uma língua franca ou veicular para a maioria dos guineenses (COUTO, 2002). Neste trabalho tenta-se questionar se o crioulo da Guiné-Bissau possui uma base portuguesa. Nesta pesquisa discute-se os conceitos de “base de uma língua” e os conceitos de “crioulo” e “pidgin”. Utilizando o método comparativo a pesquisa reflete a questão “base portuguesa” comparando com línguas africanas. Utilizando também o método bibliográfico se conclui que o crioulo da Guiné-Bissau precisa ter nome. Os dados mostram que o crioulo da Guiné-Bissau possui uma base de línguas bantu tendo emprestado algum léxico do português. Na pesquisa concluiu-se que o léxico é o mais evidente em todas as línguas, mas a base gramatical procura se conservar. O crioulo é uma língua africana que precisa de ser classificada tal como as outras línguas, havendo necessidade da produção de livros, dicionários e gramáticas que descrevem e demonstram as especificidades da língua. Seria necessário que ela seja oficializada para que seja língua de ensino não apenas nas escolas e universidades guineenses, mas também na vida da burocracia.Referências
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