ENERVADAS, DE MME. CHRYSANTHÈME: UM SIMULACRO AUTOBIOGRÁFICO
DOI:
https://doi.org/10.18817/rlj.v4i1.2216Resumo
Mme. Chrysanthème (1870-1948) foi presença recorrente nos periódicos das primeiras décadas do século XX, publicando inúmeras resenhas, crônicas e alguns de romances. Entretanto, caiu em completo esquecimento: eis o destino costumeiro das mulheres escritoras que contrariavam, em alguma medida, as expectativas do público masculino. Impulsionados pela recente reedição de Enervadas (2019), destrincharemos alguns dos traços inovadores de sua obra, dentre os quais a estrutura bipartida que nos conduz a um simulacro autobiográfico seguido por um diário ficcional. Trata-se de um livro em que a protagonista, Lúcia, transforma-se em uma obra de arte, performando uma existência artificiosa que subverterá as noções de gênero. Estamos diante, portanto, de um duplo movimento: um romance, ficcional por excelência, é também ficcionalizado pela sua narradora. O corpo de Lúcia é um quadro e suas atitudes são sempre calculadas para atingir determinado efeito. Este estudo, igualmente bipartido, pensando nos gêneros que a obra pretende simular, busca compreender as motivações de tão entediada personagem que age de acordo com os postulados pela burguesia para dela debochar. Pretendemos, ainda, demonstrar a modernidade que há em suas subversões, perfeitamente coerentes com o temperamento enervado da personagem.
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