EDIÇÃO BRATHAIR 2022.1 – CHAMADA PARA ARTIGOS

2022-01-11

Jean Froissart (c. 1337 – c. 1404), o cronista afamado por retratar as disputas entre os reis Plantagenetas e Valois ao final do século XIV, asseverou que esquecer, esconder ou mesmo mentir a respeito dos bons feitos marciais daqueles que os conquistaram por meio da proeza guerreira era uma transgressão tão grave quanto o ato de pecar. Pouco mais de um século adiante, o impressor régio Richard Grafton (1506/7 - 1573) destacou ser imprescindível assentar por escrito ações relacionadas às atividades de armas, pois, uma vez conhecidos os nomes de seus realizadores, seria possível imortalizar fielmente as suas vidas por meio da evocação perpétua de tais eventos à memória. Da França à Inglaterra, a advertência de homens daquela estirpe destacou uma ambição partilhada em ambos os reinos por ordenar a produção e a guarda de lembranças fidedignas sobre a guerra, permitindo aos contendores do presente a emulação de bons exemplos providos por combatentes de outrora. No entanto, a elaboração de memórias acerca das armas não se limitou a um processo retilíneo de comemoração e louvor a feitos de seus realizadores.

Por um lado, é fato que evocar e tornar conhecidas as ações marciais do passado através das letras foram duas das muitas ferramentas empregadas para fins de sistematizar e instruir sobre condutas e procedimentos recomendáveis no desenrolar dos eventos bélicos. Aqueles homens e algumas das poucas mulheres dedicadas a registrarem a guerra por meio da escrita da história e ao registro da guerra, por exemplo, demarcaram seu labor a partir de expectativas como as de assegurar a veracidade dos relatos e a de oferecer contornos em comum ao se fazer conhecer a respeito dos eventos que narraram. Dessa forma, foi usual a produção de reflexões que mesclaram o relato das práticas guerreiras com a preocupação em regular o seu bem contender, não raramente relacionando o cumprimento de desígnios de príncipes leigos às vontades do Divino.

Por outro, religiosos e leigos apontaram para um sem-número de desvios na condução da guerra, perpetuando à lembrança admoestações sobre a atuação deletéria dos combatentes. Ao fazê-lo, evidenciavam os males de práticas bélicas por vezes entendidas como pouco virtuosas, onde não foram incomuns as tentativas de se mapear as zonas limítrofes da licitude do emprego das armas para clarificar eventuais excessos, a exemplo dos constantes enfoques dados à destruição causada por pilhagens e os ataques contra os inermis – isso é, os “não-combatentes”.

Diante dessa dupla perspectiva, o dossiê pretende instigar submissões que considerem não apenas o que se julgou meritório de registro a respeito dos protagonistas e das ações retratadas dos conflitos, como também os papeis exercidos por sábios que se dedicaram a costurar escritos que, como mortalhas, recobriram de veracidade os eventos marciais e que dignificaram - ou trouxeram ignomínia - aos guerreiros. Uma vez que relatar e relembrar as contendas de antepassados foram processos que serviram como arrimos a sustentarem um universo de reflexões interseccionadas entre as leis, os costumes e as práticas belicosas, pretende-se que as contribuições perscrutem os conjuntos de ideias e valores a nortearem as formas pelas quais conhecimentos sobre as atividades marciais foram organizados e transmitidos. Em síntese, trata-se de convidar para o debate sobre aspectos que concernem a produção e disseminação daquilo que se ponderou sobre os muitos conflitos que demarcaram, na Idade Média, as relações nos múltiplos espaços que vieram a ser denominados de França e Inglaterra.

 

Prazo da Submissão de Artigos Inéditos, Resenhas e Traduções para esta edição:

Até 7 de abril de 2022