A HISTÓRIA MEDIEVAL ENQUANTO CIÊNCIA DA DIFERENÇA A SINGULARIDADE COMO PRODUÇÃO E MEIO DE DINÂMICA SOCIAL MEDIEVAL
Medieval history as science of difference. Singularity as production and means of Medieval social dynamics
DOI:
https://doi.org/10.18817/brathair.v22i2.3547Palavras-chave:
Idade Média, Singularidade, Diferença, Ciência da História, Dominação socialResumo
: Não se trata aqui da questão dos Celtas e dos Germanos em si mas daquela da produção histórica de sua diferença do ponto de vista dos historiadores. Esta diferença certamente não pode ser considerada como pertencendo a uma essência, de carácter mais ou menos racial, mas como o resultado inevitável de processos sociais tanto antes do contacto destes dois povos como posteriormente determinados por este mesmo contacto – e também da maneira com qual os historiadores validaram esta apresentação do social. Mas esta produção de diferença não é obviamente observada apenas a nível de povos inteiros como os Celtas ou os Germanos: é um processo multiescalar característico da produção do próprio social, desde a escala do indivíduo até, no nosso tempo, à escala da humanidade – então um processo geral de socio gênese. É isso que me conduz a reexaminar o sentido do que o medievalista francês Marc Bloch afirmou em 1937 e depois, isto é, que a história se define acima de tudo como uma ciência da diferença. Mas durante muito tempo esta questão da diferença não foi levada a sério do ponto de vista histórico (e particularmente medievalista): foi meramente observada, com o efeito de dar a impressão de uma sociedade medieval que era simplesmente heterogênea, diversa, variável, incoerente, sujeita a forças exógenas (acidentes climáticos, invasões, fluxos de ouro, epidemias, contribuições técnicas, influências culturais, etc.) ou a intencionalidades coletivas (reis, papas, cavaleiros, povos, etc.). Há já algum tempo, porém, que emerge a ideia de uma sociedade cuja dinâmica interna deriva precisamente da articulação em várias escalas (da aldeia à cristandade) de contrastes tão materiais quanto ideais – contrastes que não se trata de forma alguma de eliminar, inclusive ao nível do discurso global (ao contrário do universalismo defendido pelo nosso próprio sistema, contra o qual as afirmações de diferenças que se multiplicam são unicamente formas de reação), porque estas não eram, de forma alguma, um problema, mas precisamente o fundamento da lógica social. Pretendo, portanto, que este tipo de problemática geral (a produção multiescalar do social através da articulação das diferenças) é realmente uma das mais cruciais questões ao historiador – e isto, independentemente do objeto sobre o qual se examina. Darei assim continuidade a uma série de reflexões que tenho vindo a realizar, com alguns outros colegas, durante vários anos, sobre a questão do estatuto, do objeto e do futuro da disciplina histórica, numa tentativa de redefinir a sua função relativa em relação às outras ciências sociais, e com vista a uma ciência reunificada do social. É precisamente aqui que a questão da diferença fornece uma chave interessante, porque para mim (e alguns outros), a mudança não é a condição do trabalho do historiador, é o seu próprio objeto. Assim, a história não consiste apenas em identificar, por comparação, as diferenças como sinais de uma mudança que constituiria o quadro de explicação histórica (respondendo à pergunta de por que e como tal e tal prática mudou?), mas em fazer da mudança o seu próprio objeto, tanto no espaço como no tempo, enquanto uma forma empírica de dinâmica social (respondendo assim à pergunta de como é que a sociedade – neste caso, a sociedade medieval – produziu diferenças, no espaço e no tempo?). É por isso que posso facilmente considerar que a história é a ciência da mudança (obviamente a mudança social). Dizer que a história é a ciência da mudança (social) significa que o objeto do historiador é a historicidade dos sistemas sociais, ou seja, inelutavelmente a historicidade dos sistemas sociais de dominação. Por "historicidade" quero dizer tanto que é um processo de formação e transformação histórica das relações de domínio, que também todas elas tiveram ou terão um fim. O exame do fenômeno de produção de singularidade local na Idade Média permite considerar que os povos identificados como grupos étnicos específicos (ainda no período carolíngio) finalmente desapareceram a favor de populações enraizadas e identificadas com um espaço (lugar, região, reino) – o conceito de "população" devendo ser entendido aqui no sentido de Michel Foucault.
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