O PESO DA MEDIDA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DO DISCURSO MÉDICO A PARTIR DE DOCUMENTOS SOBRE A OBESIDADE

Resumo

O corpo considerado gordo ou mesmo que aparente possuir um pouco de gordura, há muito não é visto com bons olhos. No percurso histórico do corpo, observamos que o corpo transita entre formas ditas como ideais para atender a determinados padrões de saúde, beleza, prestígio social. Em vista disso, os sujeitos buscam moldar seus corpos a fim de atenderem aos ditames sociais de cada época e, a partir disso, os sentidos para o corpo magro e gordo vão se instituindo e estagnando. Nessa trama, o corpo gordo é, entre tantas outras adjetivações, classificado como doente. Com base nisso, esta pesquisa busca, tendo como aporte teórico e metodológico, a Análise do Discurso francesa, analisar, a partir de documentos que têm como temática a obesidade, como o discurso médico presente nesses documentos estabelece e formula o discurso sobre a saúde e a doença no tange ao corpo. Para tanto, consideramos necessário compreender como se dá o funcionamento desse discurso médico. A partir das análises, definimos, portanto, o IMC, instrumento tido mundialmente como meio diagnóstico da obesidade, como um acontecimento discursivo, tendo em vista que ressignifica os sentidos de saúde e doença para o corpo, tornando, dessa forma, a saúde e a doença categorizadas numericamente. Consideramos que isso ocorre porque o discurso médico é institucionalizado, uma vez que ele compõe práticas institucionalizados no AIE de Saúde, por isso tem assegurado o seu lugar de poder dizer do/sobre o corpo, saúde e doença. Nessa perspectiva, trata-se de um discurso cujo funcionamento predominante é autoritário que, pela forma como aborda a temática da obesidade, focando na perda de peso como sendo a única maneira de ter saúde ou de recuperá-la, acaba reforçando a inadequação do corpo gordo, (re)produzindo um efeito de sentido em que ser gordo é ser doente.