O PAPEL DA LINGUAGEM NA CONSTRUÇÃO SOCIAL EM A BAGACEIRA

Resumen

Este estudo analisa o papel da linguagem na construção social na obra A Bagaceira (1928), de José Américo de Almeida, destacando como a dualidade entre o registro erudito do narrador e os regionalismos das personagens reflete tensões de poder e disparidades no sertão nordestino durante os ciclos de seca. Partindo do pressuposto de que a variação linguística opera como marcador de hierarquias sociais, o objetivo é compreender de que modo os registros linguísticos articulam críticas às desigualdades estruturais da região. Metodologicamente, emprega-se a análise qualitativa de trechos emblemáticos da obra, fundamentada em referenciais teóricos como BAKHTIN (2011), LIMA (2011), PROENÇA (1981) e OLIVEIRA (2006), que discutem a relação entre língua, identidade e representação social. Os resultados evidenciam que a alternância entre linguagem culta e popular não apenas demarcam a estratificação social, mas também denunciam a estigmatização do falar nordestino, associada a dinâmicas de exclusão cultural e política. A voz erudita do narrador, carregada de ironia e lirismo, contrasta com a oralidade das personagens subalternas, expondo contradições de um projeto nacional que oscila entre homogeneização e diversidade. Conclui-se que a obra utiliza a linguagem como instrumento crítico, desvelando a violência simbólica enraizada no contexto sertanejo e reforçando o papel da literatura na representação de realidades marginalizadas. O estudo contribui para debates sobre sociolinguística e representação literária, destacando a relevância de obras regionalistas para a compreensão de conflitos identitários no Brasil.