Vol. 27 No. 4 (2023): REVISTA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 28 ANOS: OS EFEITOS DAS POLÍTICAS NEOLIBERAIS E DA GLOBALIZAÇÃO NA AMÉRICA LATINA E NO MUNDO
Com a missão de se tornar um veículo de divulgação da Geografia Crítica Latino-Americana, e construído pelo esforço coletivo de geógrafos(as) brasileiros(as) e argentinos(as), agregados(as) em torno do Centro de Estudios Alexander von Humboldt (Buenos Aires) e da Associação dos Geógrafos Brasileiros, Seção Local Bauru – SP, a presente edição da Revista Ciência Geográfica apresenta 26 artigos sobre OS EFEITOS DAS POLÍTICAS NEOLIBERAIS E DA GLOBALIZAÇÃO NA AMÉRICA LATINA E NO MUNDO.
Finalizamos um ano polêmico, de vitória e fracassos. Portas que se abrem ou que se encerram, diluindo-se entre tantas iniciativas e propostas de um 2023 que, certamente, ficará marcado entre nós como o grande ano nas mil e uma contradições latino-americanas.
Em política, uma visão redutora se paga com a liberdade. No presente século, o totalitarismo nos deu inúmeros exemplos disso. O que ocorre nos fenômenos sociais também se produz nos demais âmbitos em que se exerce a inteligência humana. O enfoque simplificador revela-se esterilizador em todas as partes, porque fixa arbitrariamente o que, na realidade, muda incessantemente, porque separa o que por si está unido, desconfia do caótico, do contraditório e do aleatório — que, porém, estão inscritos na natureza das coisas.
Esse enfoque conduz, necessariamente, a becos sem saída, que só podem ser superados mediante um esforço constante para ir do mais simples ao mais complexo. O processo do conhecimento não é mais do que essa aprendizagem, progressiva e ilimitada, dos segredos do real. Aprendizagem que, constantemente, o comum dos mortais tem podido dispensar, contentando-se com a obviedade do “senso comum”.
Mas como afirmou Edgar Morin, não é mais possível deixarmos apenas aos sábios (elite da academia, gestores das corporações e políticos) o privilégio do pensamento complexo e continuarmos a pensar o simples. A complexidade, a simulação, o virtual e os simulacros devem se tornar a forma de pensar cotidiana de todos nós, pois elas tornaram-se a própria matéria de nosso dia a dia.
Portanto, será que neste século XXI estaremos destinados a viver as metáforas do mundo, ou seja, um mundo da simulação e do simulacro no qual o que aparece não é o que aparenta ser? É a vida que nos intima a resistir ao fácil e enfrentar esse desafio, sob pena de perdemos o fio do real e voltarmos a cair na armadilha de novos totalitarismos. Ontem no Brasil, hoje na Argentina!
E a revista? A revista tem esse objetivo reflexivo: podermos ser, dizendo-nos, representando-nos. O espaço nos pertence!
Foz do Iguaçu, 22 de dezembro de 2023.
Zeno Soares Crocetti
Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Instituto Latino-Americano de Tecnologia, Infraestrutura e Território. Foz do Iguaçu/Paraná/Brasil. Coordenador do Núcleo de Estudos Estratégicos Ignácio Rangel (NEIR).